domingo, 11 de agosto de 2013

Eu não tenho o dom com as palavras mas meu coração vai te dizer...

É vô, hoje eu senti uma vontade de escrever pra você. Passou tantas coisas na minha cabeça, hoje, quando estávamos sentados no sofá assistindo o jogo. Era fim de tarde. Momentos... Aquele foi um. Ali. Naquela hora. Depois, tudo pode acontecer... É vôzinho, já pedem pra nos prepararmos, pra estarmos prontos, que daqui pra frente vai ser assim... Sabemos que a idade já chegou, que a força tá acabando e que o coração tá fraquinho, mas... Uma vela não foi feita para se apagar. Foi feita para brilhar, para trazer luz onde há escuridão. Mas as velas são feitas de cera e cera se esvai com o tempo. É seu Calisto, confesso que estou me preparando (como pediram) e prometo ser forte (como sempre fui), porque não quero ver você sofrer. Mas é tão dolorido estar pronta pra vê seu paivô se ir... É difícil estar preparada pra vê aquele coroa gatão que ia te buscar na escola numa saveiro branca, velha, com ligação direta e uma buzina escandalosa, partir. É difícil estar preparada para não mais encontrar aquele que me comprava biscoito "remelho" só porque eu gostava. Você foi um pai avô maravilhoso, meu velho. Mesmo sem ser de muito beijinho e abraço, eu sempre senti e sei o quanto me ama e o quanto eu também faria falta se fosse eu que estivesse partindo. Lembro das moedinhas pra comprar confeito, de pedir pra eu repetir as palavras erradas: mebuda (bermuda), jimirum (jerimum) e mofá (sofá) só pra pensar que eu não tinha crescido. Lembro do silêncio que tínhamos que fazer depois do almoço pra você tirar seu cochilo sagrado e do seu buzinaço no fim da tarde pra sinalizar que estava chegando em casa. Lembro do seu depósito de biscoitos variados e de comprar doce japonês sempre que ele passava. Lembro das suas partidinhas de dominó no ponto de táxi, acho até que eu te dava sorte, você sempre ganhava as partidas e as apostas. kkkkkkkk. Lembro de te emprestar minha mesada. Era engraçado você pedindo dinheiro emprestado a uma pirralha como eu, mas eu sempre tinha umas economias. Lembro de como você não tratava bem meus amigos do sexo masculino. O telefone tocava e o senhor atendia: Alô! - "Quero falar com Camila". Quem é? - "É um amigo dela". Camila não tem amigo, não. E prontamente desligava o telefone na cara do cidadão. kkkkk.  Dói, sabe vô, te ver partir mas em parte me sinto feliz por ter feito parte da sua vida e por ter te retribuído da melhor maneira que eu pude. Nós últimos anos, os papéis se inverteram. Me sinto realizada por ligar pra vovó e dizer: "Tá na hora de acordar vovô que o jogo do Brasil vai começar"; por te levar pra passear na Usina; te levar pra comer pastel e tomar caldo de cana; por poder comprar suas bolachas preferidas; por te trazer rapadura quando estive no Ceará; por te levar pra ver o mar às 6h da manhã em Pontas de Pedras, por te socorrer quando você precisou; por passar noites em claro ou acordando de hora em hora pra cuidar de você; por te levar pra rever e conversar com os amigos do dominó... 

Eu espero vô, ter respondido e correspondido à altura. Eu espero ter sido pra você pelo menos um terço do que o senhor foi pra mim. Embora meu coração esteja apertado e choroso, eu torço pra que tudo termine  e fique bem e quem sabe, daqui há uns 10 anos você esteja lendo esse texto, afinal, és um touro e tens um coração valente. Se há 26 anos, precisamente quando eu nasci, resistiu... que resista um pouco mais! Obrigada por ser meu pai, meu avô, meu héroi  Sr. Eurides Pessoa de Albuquerque. Te amo ontem, hoje, amanhã e sempre. 

PS: Quando tiver chegando a hora, me dê um sinal.